Karina Possa AbrahãoSociedade e Educação

Tomada de decisão: a ciência da escolha

Todos os dias nos deparamos com momentos que devemos fazer escolhas. Comer uma fruta ou um salgado? Ver um seriado ou ler um livro? Manter ou terminar um relacionamento? Existem ainda escolhas muito mais abrangentes, como é o caso de decisões políticas sobre os problemas ambientais ou distribuição de renda. Nesses casos, a tomada de decisão dos políticos impacta a vida de todo um grupo de pessoas, de um país, e até mesmo de todo o planeta Terra.

Tomada de decisão é um processo computacional integrativo. A todo momento o nosso cérebro deve interpretar os estímulos sensoriais provenientes do ambiente e integrá-los com os estímulos internos. Esses estímulos internos podem ser os nossos objetivos de vida, expectativas, preferências, etc.

Compreender como o cérebro funciona durante a tomada de decisão é de interesse de diversos setores da sociedade.

  1. Um indivíduo compulsivo por compras ou comida pode se beneficiar da ciência da tomada de decisão. Isso porque médicos e psicólogos criam melhores estratégias em como ajudar pacientes a eliminarem hábitos ruins de suas vidas.
  2. Professores podem aprender a engajar crianças e jovens em atividades que são mais aceitas pelos estudantes. Essas atividade podem desencadear um melhor aprendizado.
  3. Novas tecnologias, como a Siri do seu iPhone ou o Google Home, devem decidir em como responder baseado em algoritmos criados por grande banco de dados de como os seres humanos conversam.
  4. Uma empresa de marketing pode utilizar a ciência da tomada de decisão para escolher um tipo de propaganda. Isso porque utilizar o conhecimento de como tomamos a decisão de compra ajuda a empresa a te vender produtos.
  5. Um político também pode utilizar do conhecimento científico de como decidimos para enviesar a sua escolha de voto. As estratégias envolvem elaborar propagandas com menções a tópicos e ideias que, em um determinado momento histórico, é de suma importância a grande parte da população. Quando você ouve o que gostaria de ouvir, você tem a tendência de acreditar e dar suporte, mesmo antes de identificar se a promessa tem fundamento.
  6. Mais atualmente, as mídias sociais utilizam algoritmos de cliques e “likes”, que você faz todos os dias, para te indicar produtos, pessoas e ideias…

Em todas essas situações são utilizados inúmeros estudos que criam modelos etológicos, ou seja, de comportamento, de como nós tomamos decisões. Além dos modelos comportamentais, os cientistas estão cada vez mais interessados em como o cérebro funciona durante tomadas de decisões. Tantos as decisões boas quanto as ruins.

Nas últimas duas décadas houve um rápido avanço do entendimento das bases neurais de alguns aspectos da tomada de decisão. Existem dois grandes temas que podem ser discernidos nestes trabalhos. Um tema baseia-se na compreensão do cérebro com base no processamento primário de recompensa e punição, particularmente em aprendizado, estudado em modelos animais. O outro baseia-se no comportamento humano, particularmente quando avaliado em relação à economia e psicologia de decisão.

De maneira geral o processo de tomada de decisão engaja grande parte das regiões corticais, como o córtex orbitofrontal e pré-frontal. As escolhas também engajam regiões cerebrais subcorticais como, por exemplo, os Núcleos da Base. Além disso, diversos neurotransmissores também estão envolvidos, como a famosa dopamina.

Sabemos bastante sobre como os neurônios se comportam durante a tomada de decisão frente a situações conhecidas. No entanto, os cientistas sabem menos sobre como o cérebro responde frente a situações novas. Existem uma infinidade de variáveis que podem moldar qualquer decisão. Um trabalho recente, desenvolvido no Japão e Alemanha, estudou como os neurônios do córtex frontal disparam quando ratos tomam uma decisão baseada em um estímulo conhecido ou um estímulo desconhecido. Os cientistas descobriram que a dinâmica da atividade dos neurônios durante a tomada de decisão frente a estímulos conhecidos pode prever o nível de variabilidade comportamental da tomada de decisão frente a estímulos desconhecidos.

Se chegarmos a uma compreensão profunda das bases neurais da tomada de decisão, possamos talvez prever as ações das pessoas até mesmo quando elas estão em situações novas.

O que você acha disso? Comente…

 

REFERÊNCIA

Fellows LK. The Neuroscience of Human Decision-Making Through the Lens of Learning and Memory. Current Topics in Behavioral Neurosciences. 2016.

Kurikawa T, Haga T, Handa T, Harukuni R, Fukai T. Neuronal stability in medial frontal cortex sets individual variability in decision-making. Nature Neuroscience. 2018.

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