Ambiente e BiologiaTúlio Lima Botelho

Sobre macacos e a febre amarela

Mais um verão chegou e, com ele, as doenças. Todos os anos ocorre um surto de alguma doença transmitida por insetos, como é o caso da dengue e, mais recentemente, do zika. No entanto, 2018 começa com um alerta e temor da reurbanização da febre amarela, o que está mobilizando autoridades de saúde e levando milhares de pessoas aos postos de vacinação. Neste texto vamos falar sobre macacos e a febre amarela.

A febre amarela é um doença causada por um flavivírus transmitido aos seres humanos através da picada de mosquitos. É uma doença que possui dois ciclos, o silvestre e o urbano. A forma urbana é transmitida por um velho amigo dos brasileiros, o mosquito Aedes aegypti, também transmissor da dengue, zika e chikungunya. No Brasil, não se tem registro desse ciclo desde 1942, quando os últimos casos foram notificados no Acre.

No entanto, o ciclo silvestre sempre esteve presente, apresentando casos esporádicos em pessoas que entravam em matas e florestas onde podem ser encontrados mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Nesses locais, as fêmeas dos mosquitos buscam o sangue para a maturação de seus ovos em primatas não humanos, como os macacos dos gêneros Allouata (bugio), Cebus (macaco-prego), Ateles (macaco-aranha) e Callithrix (saguis). Para entender melhor acesse o texto do Governo do Estado de São Paulo, clicando aqui.

Esse surto teve início em 2016, com alguns casos na divisa entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Agora, vários casos no estado de São Paulo colocaram a população em alerta.

Sua grande vítima dessa vez são os macacos, principalmente aqueles que vivem próximos aos seres humanos. Muitas pessoas ainda não compreendem que o transmissor da doença são os mosquitos e por isso agridem e até mesmo envenenam macacos, pensando que estão livrando suas cidades da doença. Os macacos são apenas hospedeiros do vírus, que se contaminam, ficam doentes e podem morrer de febre amarela.

Aliás, a morte de macacos por febre amarela é um indicador importante para as autoridades de saúde. Seja em cidades ou em áreas preservadas, macacos mortos devem ser coletados para exames de detecção da causa de sua morte. Isso porque um resultado positivo para febre amarela coloca o sistema de saúde em alerta. Isso indica um risco de circulação do vírus na região, com possibilidade de contaminar pessoas que vão a esses locais.

Se uma matança desses primatas se iniciar nas cidades com surto da doença, o ser humano será ainda mais prejudicado. Sem o seu principal bioindicador, ficará difícil ter uma noção da circulação do vírus no meio silvestre, com riscos de contaminação humana. Além disso, sem os macacos para lhes fornecer sangue, as fêmeas dos mosquitos terão de buscar outros seres vivos, encontrando uma oferta gigantesca de sangue humano para elas.

Os macacos são tão vítimas quanto nós, seres humanos. A destruição de seu habitat natural deixa-os numa situação de risco. Sem árvores para retirar seu alimento, eles ficam fracos e suscetíveis a doenças, se contaminando com os mosquitos transmissores que vivem na mata. Na busca por comida, muitos insetos acabam nas cidades que picam os macacos. Se existe algum vilão aqui, é o mosquito e as pessoas que não se comprometem em acabar com seus criadouros, não os macacos.

Por isso, os macacos só devem ser observados, fotografados e filmados. Apenas isso. Se os quer longe das cidades, conserve a natureza, pois ser vivo nenhum deixa sua casa porque quer; ele só o faz quando faltam-lhes os recursos básicos, destruídos pela ação humana. Qualquer maltrato ou morte enquadra o agressor na lei de Crimes Ambientais, que prevê pena de seis meses a um ano de detenção, mais multa.

O que é população deve fazer é se vacinar e cuidar para que o mosquito não prolifere. Aqueles velhos cuidados que os agentes de endemias falam quando passam nas casas é a solução para acabar com a febre amarela. O mosquito transmissor é o mesmo da dengue, que põe seus ovos em água. Então, cuidado com pneus, garrafas, vasos, ralos, caixas d’água e qualquer outro recipiente que possa se tornar criadouro do Aedes aegypti.

Caso você encontre algum macaco morto em sua cidade, ou em algum passeio por área natural, sigam essas recomendações:

  • Não toque ou transporte o animal. A febre amarela não é contagiosa, mas o macaco pode estar contaminado com algum outro microrganismo;
  • Comunique imediatamente a direção do parque ou Vigilância Epidemiológica de sua cidade.

Fique, também, alerta aos sintomas da febre amarela: febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça, dor muscular, náuseas e vômitos por cerca de três dias. A icterícia (pele e olhos amarelados) também é um sintoma característico. Caso apareçam, procure o serviço de saúde o mais rápido possível. E não se esqueça, a prevenção é o melhor remédio. Vacine-se!

REFERÊNCIAS:

Cavalcante KRLJ, Tauil PL. Risco de reintrodução da febre amarela urbana no Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 26, n. 3, pp. 617-620, jul./set. 2017.

Rodrigues L. Especialistas investigam relação entre febre amarela e degradação ambiental. 2017

Sistema Ambiental Paulista. Febre amarela: o macaco não é o vilão. 2017

Vasconcelos PFC. Febre amarela. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 32, n. 2, p. 275-293. 2003.

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