Precisamos falar sobre POPs
A estrutura dos ecossistemas, a vida dos seres vivos, a qualidade do ar, da água e dos solos estão cada vez mais ameaçados por um conjunto de agentes que podemos resumir em apenas três letrinhas: POPs. Não, o texto de hoje não falará sobre música. O assunto do texto é algo muito mais sério, pois POPs é a abreviação de Poluentes Orgânicos Persistentes.
A indústria química produz uma série de substâncias que usamos diariamente. São alvejantes, desinfetantes, detergentes, limpadores, pesticidas, entre muitos outros. Uma infinidade de produtos químicos é lançada diariamente no meio ambiente sem nenhum cuidado, como se fossem tão triviais como a água. Só que esses produtos, na natureza, não são inocentes ou trazem soluções “milagrosas” como dizem seus rótulos.
As alterações ambientais decorrentes de produtos químicos lançados sem o devido tratamento é um fato gravíssimo e conhecido há bastante tempo. Algumas substâncias são de difícil degradação e por isso permanecem no ambiente por muito tempo. Esses produtos causam desde a morte rápida dos seres vivos até alterações permanentes das cadeias alimentares. Quando essas substâncias conseguem entrar e permanecer nas cadeias alimentares, fenômeno chamado de bioacumulação, recebem o nome de Poluentes Orgânicos Persistentes, ou simplesmente, POPs.
Do que os POPs são formados?
Os POPs são formados através de diversos processos industriais, como a produção de PVC, papel, incineração do lixo, produção de produtos agrícolas e derivados do cloro. Eles podem ser agrupados em:
- pesticidas (DDT, aldrina, toxafeno e outros),
- produtos industriais (como os policlorobifenilos – PCBs) e
- produtos não intencionais, que são subprodutos da indústria química (as dioxinas e furanos).
O DDT, por exemplo, foi um pesticida usado em larga escala para erradicar diversos insetos vetores de doenças. Levado pelo vento, entrava em corpos d’água, contaminando insetos que serviam de alimento para peixes. Era o início da presença do DDT na cadeia alimentar. Essa substância pode causar câncer em pessoas que ingerem peixes contaminados. Essa situação foi fortemente denunciada no livro Primavera Silenciosa (1962), onde Rachel Carson mostrou as consequências do uso do DDT e deu início a um grande movimento que levou à proibição do produto nos EUA.
Os POPs permanecem nos seres vivos por muito tempo sem perder seu potencial tóxico.
Isso causa danos mesmo em cadeias com muitos organismos. Além do câncer, Feliz e colaboradores afirmam que os poluentes orgânicos ainda desregulam diversas funções hormonais e neurológicas, causam problemas de fertilidade, cardiovasculares, renais, entre outros. O ser humano entra em contato com esses produtos através de alimentos contaminados, o que reforça a necessidade da redução desses produtos nas lavouras e da adoção do consumo de produtos orgânicos . Além disso, acidentes durante a manipulação de POPs e a presença deles no leite materno são outras vias de contaminação.
Além do acúmulo nos animais por causa da cadeia alimentar, esses compostos também se acumulam no ambiente. Quando lançados, eles caem nos corpos d’água, são levados pelo vento e penetram em camadas profundas do solo.
Essa capacidade de “se mover” pelo planeta faz com que regiões distantes de onde houve a emissão sejam afetadas pelos poluentes orgânicos persistentes. O fácil transporte dessas substâncias faz com que nenhum local esteja livre dos impactos. Hoje mesmo uma ilha paradisíaca no meio do Oceano Índico pode estar contaminada com POPs lançados no Brasil.
Diante de impactos tão graves e de muitas evidências de que algo urgente deveria ser feito, 151 países assinaram, em 22 de maio de 2001, um acordo de proibição do uso desses produtos químicos durante a Convenção de Estocolmo. O objetivo foi proteger a saúde humana e o meio ambiente dos efeitos desse perigoso grupo de produtos químicos. Esse acordo descreve e sugere métodos para proibir sua produção, uso e, quando possível, eliminar sua liberação para o ambiente.
Inicialmente, a Convenção destacou os produtos Aldrin, Chlordane, Dieldrin, DDT, Dioxinas, Furanos, Endrin, Heptachloro, Hexachlorobenzeno, Mirex, PCBs, Toxapheno, conhecidos como “os 12 sujos” (the dirty dozen). A cada reunião das partes, novos POPs são incluídos nessa lista; após a Conferência das Partes de 2013 (COP 6), a Convenção de Estocolmo lista 23 substâncias, que você pode conferir na página do Ministério do Meio Ambiente, clicando aqui.
O Brasil aprovou o texto da Convenção em 2005 e, desde então, os POPs vem saindo de circulação no país. Existem diversos documentos do Ministério do Meio Ambiente que norteiam as ações de erradicação dos POPs no país. Muitos deles já foram proibidos e a obrigatoriedade do receituário agronômico, na compra de defensivos agrícolas, contribui para o controle e uso responsável das substâncias ainda permitidas.
Ainda existe um longo caminho para que os POPs sejam erradicados do planeta, pois mesmo com a legislação, esses produtos são comercializados no mercado negro. É primordial que as pessoas tenham consciência dos problemas decorrentes do uso dos POPs e coloquem isso acima de qualquer outro motivo, como aumento de produção ou praticidade. O banimento desses produtos é mais uma chave para um futuro melhor no planeta Terra. Contribua você também e espalhe essa informação.
REFERÊNCIAS
Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes. Acesso em: 03 ago. 2017
Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Plano Nacional de Implementação: Convenção de Estocolmo. Acesso em: 03 ago. 2017.
Felix FF, Navickiene S, Dórea HS. Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) como Indicadores da Qualidade dos Solos. Revista da Fapese, v.3, n. 2, p. 39-62, jul./dez. 2007
Montoni RC. Poluentes Orgânicos. Disponível aqui. Acesso em: 03 ago. 2017.