Não confie em tudo o que vê…
Sabia que muito do que você vê do mundo não é real? O nosso cérebro é programado para utilizar pequenas dicas do mundo que entram pelo nosso sistema visual e, com nossas memórias, formar imagens maravilhosas. É realmente muito bom poder ver as coisas. No entanto, é extremamente importante termos consciência de que nossos cérebros criam ilusões e imagens distorcidas da realidade. Não confie em tudo o que vê…
O sentido da visão
As informações exteriores chegam no cérebro dos animais através de todos os sentidos. Um dos sentidos mais aprimorados nos seres humanos é a visão.
A luz que reflete dos objetos ou outros seres vivos entra nos nossos olhos, ultrapassando a íris, esse pedacinho preto e redondo no meio do seu olho. Aí a luz viaja pelo globo ocular e atinge uma película de neurônios que reveste o fundo do olho. Essa película é chamada de retina. A luz estimula os neurônios da retina que, por sua vez, mandam sinais elétricos para o seu cérebro, particularmente para o córtex visual.
A informação visual é específica é interpretada pelo nosso cérebro em conjunto com nossas memórias. Vamos a alguns exemplos:
Não percebemos tudo que está na nossa frente
Nossa visão geralmente foca em aspectos gerais ao invés de particulares de uma imagem qualquer. Só prestamos atenção nos aspectos particulares se formos indagados a respeito daquilo. Isso muda a maneira que observamos uma imagem, por exemplo. Foi assim que o psicólogo russo Alfred Yarbus percebeu que as pessoas fazem a observação de uma tela de pintura (Unexpected Visitors, de Ilya Repin) de maneira diferente se são questionados a respeito de detalhes diferentes.
Eu vi um exemplo simples e interessante no livro Incógnito, de David Eagleman. Digamos que eu peça a você para olhar a seguinte imagem e me dizer do que a imagem é composta:
IIIIIIIII
Muito provavelmente, você me diria que a imagem tem linhas verticais, certo? Para isso, não necessário gastar muito tempo olhando para as linhas.
E se eu perguntasse quantas linhas foram desenhadas? Com certeza você teria que retornar à imagem e gastar muito mais tempo analisando-a. Teria que focar nos detalhes para responder a minha pergunta.
Portanto, “o cérebro geralmente não precisa saber a maioria das coisas; ele sabe meramente como achar as informações no mundo. O cérebro faz sua computação, baseado na necessidade.” (livre tradução de frase do livro Incógnito: As Vidas Secretas Do Cérebro, de David Eagleman).
É exatamente por isso que não percebemos os detalhes escondidos que os mágicos fazem na nossa frente.
A visão é ativa: o cérebro interpreta e não só recebe as informações
A imagem abaixo pode ser vista como duas faces ou um vaso. A imagem não muda, o que muda é como o seu cérebro interpreta o que está chegando através do sistema visual.

Isso quer dizer que vemos as coisas da maneira como nosso cérebro interpreta. Veja, portanto, como é importante saber disso, uma vez que a maneira como seu cérebro está interpretando o que vê talvez não seja a verdadeira ou a única possibilidade.
O cérebro monta um parâmetro visual onde não há informação real
Para finalizar, precisamos também falar do ponto cego. Nós temos um ponto cego na retina e ele não é pequeno. Isso quer dizer que em determinada parte da imagem a sua frente você não enxerga nadinha de nada.
O ponto cego é exatamente um pedaço da retina que não tem neurônios para decodificar a luz que vem do mundão aí fora.
E como será, então, que não aparece um pedaço preto aqui nessa tela?
Isso acontece porque onde não há informação luminosa, o cérebro cria um padrão baseado nas imagens ao redor do ponto cego.
Veja a imagem a seguir. Feche o seu olho direito e fixe o olhar esquerdo no meio na imagem. Agora, aproxime a tela do seu celular ou aproxime-se do computador até que não veja mais o círculo branco.

Perceba que quando o círculo branco desaparece, sua percepção completa a falta do círculo com o padrão do fundo da imagem: listrado. Isso é o seu cérebro trabalhando para preencher seu ponto cego com informações que estão ao redor dele.
O ponto de vista está dentro da sua cabeça
Você não vê a realidade completa, mas sim uma interpretação mental e individual dela.
Pense nisso!

REFERÊNCIAS
Baldo MV, Haddad H. Ilusões: o olho mágico da percepção. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2003.
Maus GW, Whitney D. Motion-Dependent Filling-In of Spatiotemporal Information at the Blind Spot. PLoS One. 2016.
Tatler BW, Wade NJ, Kwan H, Findlay JM, Velichkovsky BM. Yarbus, eye movements, and vision. Iperception. 2010.