Estudar tudo de uma vez: por que não?
Você já deve ter se perguntado: Por que estudo e depois da prova não lembro da matéria? Existem alguns motivos que podem estar relacionados com esse fato e um deles diz respeito a QUANDO estudar.
Pesquisas mostram uma tendência dos alunos preferirem estudar na véspera da prova, do que estudar aos poucos a matéria. Essa preferência de estudar tudo de uma vez, está longe de ser uma estratégia que os alunos não queiram mais adotar…
Vou-lhe explicar o porquê.
Tudo de uma vez ou um pouco de cada vez?
Vamos supor um aluno A que tem uma prova daqui 10 dias e vai se dedicar 5 horas estudando para ela. Ele escolhe gastar essas 5 horas na véspera da prova (ver os alunos estudando maciçamente é um cenário bem comum).
Agora pensem em outro aluno B que também tem 5 horas para estudar para a mesma prova, entretanto, ele prefere DISTRIBUIR essas horas ao longo de alguns dias (1 hora hoje, 1 hora no terceiro dia, 1 hora no quinto dia, 1 hora no sétimo dia e 1 hora no nono dia).
No dia da prova, ambos alunos vão relativamente bem. Até aqui nada de novo.
O fato dos alunos estudarem na véspera da prova e irem bem, faz com que muitos acreditem que estão usando uma boa estratégia. Além disso, é mais fácil estudar tudo de uma vez do que aos poucos.
No entanto, a grande diferença é vista a longo-prazo. Imagine que a professora decidiu dar a mesma prova, sem avisar os alunos um mês depois que ela aplicou a prova. Você consegue imaginar qual foi o resultado? Nesse cenário, na grande maioria dos casos, o desempenho do aluno B é superior ao do aluno A. Esse fenômeno é conhecido como “efeito do espaçamento” ou prática de distribuir.
Qual o mecanismo envolvido na prática de distribuir?
O que acontece na nossa cabeça para que esse efeito ocorra? Cientistas da cognição tem algumas hipóteses. Uma delas é a teoria das dificuldades desejáveis que afirma que algumas dificuldades são necessárias para que a aprendizagem dure. Estudar tudo de uma vez pode ser mais fácil, ao passo que estudar um pouco de cada vez pode ser mais complexo, requer maior esforço cognitivo, logo, acaba sendo uma dificuldade desejável na aprendizagem.
Além disso, outras possíveis explicações são: toda vez que a pessoa revê o conteúdo, ela pode criar um traço de memória mais forte. Ou ainda, se a pessoa não revê os conteúdos imediatamente, ela tem que reativar esses traços de memória. Logo, isso vai fortalecendo-os fazendo com que eles durem mais tempo. Entretanto, alguns cientistas acreditam que não pode demorar muito tempo para rever o conteúdo, pois se não conseguir reativar o traço, não há o efeito.
Como incorporar a prática de distribuir no dia-a-dia?
Vocês já leram aqui sobre a prática de lembrar e viram que essa técnica melhora a aprendizagem mais do que apenas reler a matéria. Então misture essas duas práticas!
Quando for estudar de forma distribuída – ou seja, um pouco de cada vez – escolha estudar via prática de lembrar, uma técnica conhecida como “prática de lembrar distribuída”.
Você pode fazer assim:
- Elabore um cronograma de estudo.
- Procure estudar um pouco conteúdos que viu hoje na aula e também estudar conteúdos que viu semana passada.
- No dia seguinte, inclua matérias de duas semanas atrás e assim por diante.
Você verá que o tempo que gastará estudando não mudará muito, mas sua aprendizagem durará mais tempo!
REFERÊNCIAS
Bjork RA. Memory and metamemory considerations in the training of human beings. Metacognition: Knowing about knowing. 1994.
Cepeda NJ, Vul E, Rohrer D, Wixted JT, Pashler H. Spacing effect in learning: A temporal ridgeline of optimal retention. Psychology Science. 2008.
Karpicke, J. D., Butler, A. C., & Roediger III, H. L. Metacognitive strategies in student learning: do students practise retrieval when they study on their own? Memory. 2009.
Pingback: Intercalar matérias melhora a aprendizagem – Eureka Brasil