Ambiente e BiologiaPriscila Ortega

Desertificação e degradação ambiental

Quando falamos em degradação do ambiente, lembramos do desmatamento. Também lembramos da poluição do ar, água e solo. E ainda podemos citar os problemas de poluição com os lençóis freáticos. Contudo, esquecemos de um processo que é pouco citado quando o assunto é a poluição do meio ambiente: a desertificação. Hoje nós vamos falar da desertificação e degradação ambiental.

Alguns cientistas definem a desertificação como a degradação do solo, paisagem e sistema bioprodutivo terrestre. Isso acontece, em áreas áridas, semiáridas e sub-úmidas. O processo é resultado de vários fatores, incluindo as variações climáticas e as atividades humanas. O mais alarmante deles é a degradação ambiental.

No entanto, não podemos confundir a desertificação com a seca. A seca é um fenômeno natural, que ocorre quando a precipitação diminui significativamente em relação à precipitação normal. A desertificação nasce da interação de processos complexos, como a agricultura, erosão, mecanização, e assim por diante, afetando o equilíbrio físico, químico e biológico do ecossistema.

De maneira geral, a desertificação se inicia com o desmatamento de áreas com vegetação nativa, ou através do uso intensivo do solo, como na agricultura e pecuária. Com a retirada da camada vegetal, o regime de chuvas é alterado, diminuindo assim a precipitação local. Por conta da ausência da cobertura vegetal e da falta de chuva, ocorre uma intensificação do processo erosivo do solo, diminuindo o que se chama de terras agricultáveis, instalando assim o processo de desertificação.

Figura 1: Processo de desertificação acelerado, afetando a sobrevivência da fauna local.

Os sinais de desertificação são bem evidentes por todo o planeta. Principalmente quando percebemos a degradação da paisagem, a diminuição da capacidade produtiva dos ecossistemas e do aumento dos níveis de pobreza e perda da qualidade de vida das populações, particularmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. No entanto, o grau de conhecimento desses processos degradativos, assim como a extensão dos mesmos, ainda são deficitários e necessitam de constantes atualizações.

Um estudo indicou que o semiárido brasileiro é uma das áreas mais afetadas pela desertificação. A população residente nessa área apresenta alta dependência da Caatinga para a sua subsistência, o que resulta na vulnerabilidade social, econômica e ambiental.

O mesmo estudo relatou ainda que essa dependência leva à pressão crescente sobre os recursos naturais da região, tornando-a suscetível aos processos de desertificação.

O município de Cabaceiras, na Paraíba, destaca-se devido aos processos intensos de desertificação. Esse estudo relatou que a área, antes coberta pela vegetação natural, apresenta-se com grandes extensões de solos desnudos relativos à descontinuidade da cobertura vegetal.

Figura 2: solo desnudo, sem a vegetação local, típico do processo de desertificação.

Da mesma maneira, a região apresenta uma grande pressão antrópica, juntamente com condições climáticas adversas, caracterizadas por uma irregularidade no regime de chuvas, dando origem aos processos de desertificação. Além disso, a presença de uma pecuária caprina em Cabaceiras intensifica ainda mais o processo. Isso porque esses animais consomem as folhas da Caatinga, castigando ainda mais o ambiente. A erosão do solo dessa região também foi detectada. Observou-se que grande parte das terras agricultáveis já foram perdidas e que os níveis de degradação já são muito graves.

Outra região estudada foi o Cariri, também pertencente à Paraíba. Essa região apresentou uma grande redução da sua vegetação nativa. Principalmente devido ao desmatamento desregrado para o plantio de outras espécies (milho, feijão), utilização das plantas para o uso medicinal (principalmente xaropes para resfriados) ou uso artesanal da madeira, também estando dentro do quadro de regiões com alto grau de desertificação.

Contudo, o que fazer para melhorar esse quadro tão destrutivo da desertificação?

A resposta pode parecer meio óbvia, mas a melhor forma para amenizar ou, quem sabe, reverter esse quadro desastroso ainda é a educação.

Nas últimas décadas, se intensificaram as preocupações inerentes ao meio ambiente. Iniciativas dos mais variados setores da sociedade surgiram para o desenvolvimento de atividades e projetos, no intuito de educar as comunidades, procurando sensibilizá-las para as questões ambientais.

A introdução de projetos e atividades que motivem a discussão dos problemas ambientais, principalmente a desertificação, tornam a comunidade mais consciente das questões que envolvem a região onde vivem. A utilização de temas geradores e que pertencem ao cotidiano das comunidades permite o pensamento crítico sobre o problema em questão. Isso contribui para a sugestão de possíveis soluções para o problema abordado.

Além disso, o mesmo estudo científico destacou que a imprensa exerce um papel fundamental para a resolução das questões ambientais. O simples fato de divulgar, com frequência, esses problemas, já permite a reflexão da sociedade sobre os acontecimentos da sua região. Isso permite uma maior participação da mesma para a resolução dos problemas locais.

Dessa maneira, percebe-se o quanto a desertificação é problemática nas regiões semiáridas do país. Além de destruir com a vegetação natural, a desertificação também implica na extinção de várias espécies de animais e vegetais, na erosão do solo e na diminuição da qualidade de vida da população local.

A educação entra como o ponto de apoio, a base, para formar cidadãos críticos e que pensem nas questões ambientais.

Investir na educação não é jogar dinheiro fora! É formar pessoas que pensam no meio ambiente e que participam ativamente da construção de um mundo melhor.

 

REFERÊNCIAS

Araújo CSF, Sousa AN. Estudo do processo de desertificação na Caatinga: uma proposta de educação ambiental. Ciência e Educação, 2011.

Lopes HL, Candeias ALB, Sobral MC. Modelagem de parâmetros biofísicos para o desenvolvimento de algoritmo para avaliação e espacialização de risco a desertificação. Bol. Ciênc. Geod., 2009.

Perez-Marin AM, Cavalcante AMB, Medeiros SS, et al. Núcleos de desertificação no semiárido brasileiro: ocorrência natural ou antrópica? Parc. Estrat., 2012.

Sousa RF, Barbosa MP, Neto JMM, et al. Estudo do processo de desertificação e das vulnerabilidades do município de Cabaceiras-Paraíba. Engenharia Ambiental, 2007.

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