Alice MugliaSaúde

Câncer de endométrio e perda de peso.

Não é novidade que manter uma dieta equilibrada e praticar atividades físicas com regularidade é importante para se ter uma vida saudável. Porém, na prática, lutar contra o sobrepeso e a obesidade não é tarefa simples. Será que vale a pena o sacrifício? Depois de determinada idade, ainda faz diferença tentar dominar a balança? A resposta é sim! Mais um benefício da perda de peso foi reportado em um artigo científico publicado no Journal Of Clinical Oncology em 2017. A perda de peso intencional – isto é, associada a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis e aumento da frequência ou intensidade de atividade física – está associada com menor risco de desenvolver câncer no endométrio em mulheres após a menopausa.

O endométrio é o tecido que reveste internamente a parede do útero. O câncer de endométrio representa cerca de 90% dos tumores do corpo do útero. Além disso, ele figura entre os cinco mais frequentes entre as mulheres. No Brasil, o Instituto do Câncer (INCA) estima que tenham ocorrido 6.950 novos casos em 2016. A doença, em geral, inicia-se a partir dos 50 anos de idade, e está associada, entre outros fatores, com a obesidade. Poucos estudos, entretanto, tinham avaliado a influência da perda de peso no desenvolvimento ou progressão da doença.

Pesquisadores da Universidade de Indiana avaliaram quase 40 mil mulheres entre 50 e 70 anos de idade. Elas faziam parte da Iniciativa pela Saúde da Mulher (tradução livre do inglês para Women’s Health Initiative). Esse estudo observacional de longo prazo recruta mulheres pós-menopausa por todo o país com o objetivo de identificar estratégias de prevenção de diversas doenças. As participantes selecionadas tiveram o peso corporal medido no início do estudo e após 3 anos. O índice de massa corporal (IMC), medida internacional que leva em conta a altura e peso para avaliar se a pessoa está com um peso saudável, também foi calculado.

As mulheres foram divididas em 3 grupos: as que mantiveram o peso (ou que o peso variou em até 5%, para mais ou para menos), as que ganharam peso e as que perderam peso, sendo estas questionadas se essa perda foi intencional; ou seja, se elas tiveram a intenção de emagrecer.

Após mais de 10 anos de acompanhamento, 566 delas foram diagnosticadas com câncer de endométrio. Os autores observaram que, comparado com aquelas que mantiveram o peso, mulheres que perderam peso tiveram 29% menos risco de desenvolvimento da doença. Quando a perda de peso foi intencional, o risco foi 40% menor. Para mulheres obesas (IMC>30 kg/m2), o benefício da perda de peso foi ainda mais considerável: 60% menos risco. O ganho de peso, a perda não intencional e idade não apresentaram diferença de risco significativa.

Os autores também afirmam que mulheres que perderam peso intencionalmente neste período de 3 anos e apresentaram IMC normal (entre 18,5 e 25 kg/m2) apresentaram o mesmo risco de desenvolver câncer de endométrio que mulheres que mantiveram um IMC normal estável durante o mesmo período.

É importante lembrar que o câncer é uma doença multifatorial, desencadeada por diversos fatores. Este trabalho reafirma a importância da adoção de hábitos de vida saudável em qualquer fase da vida. Além disso, ressalta a relevância do controle do peso como uma estratégia de prevenção do câncer de endométrio. Especialmente para mulheres obesas que já entraram na menopausa.

 

REFERÊNCIA:

Luo J, Chlebowski RT, et al. Intentional Weight Loss and Endometrial Cancer Risk. J Clin Oncol. 2017

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