Roberta EkuniSociedade e Educação

Um olho no estudo, outro nas mídias sociais…

Cenário comum: um estudante senta para estudar uma matéria. Começa a ler o conteúdo, e resolve pausar para responder rapidamente a mensagem que acabou de receber no WhatsApp, afinal, é rapidinho… Volta a ler a matéria e resolve conferir “rapidamente” sua timeline no Facebook. E assim continua por todo o período em que está “tentando estudar”.

Esse fenômeno é conhecido como multitarefas com mídias, ou seja, dividir ou alternar a atenção enquanto está realizando uma tarefa.

Os estudos do campo educacional mostram que quando a pessoa está dividida entre o estudo e a mídia social, seu aprendizado é prejudicado. Isso acontece especialmente nas tarefas que demandam muito esforço cognitivos ou quando e a pessoa realiza duas tarefas semelhantes. Por exemplo, duas tarefas que envolvem conteúdo verbal, como no caso de ler um texto para a prova e ler as mensagens recebidas via celular.

A questão é que: será que em um mundo em que há muita informação, devemos desempenhar multitarefas para sermos mais produtivos e melhorar nosso desempenho?

Se você respondeu que sim, continue lendo esse texto.

A ciência discorda de você. Pesquisas mostram uma correlação entre o desempenho nos estudos e a quantidade de mensagens trocadas. Quanto mais mensagens de texto o aluno troca, menor sua nota no GPA (média de notas recebidas pelos alunos nos EUA, quanto maior a nota, mais oportunidades de bolsa e entrar em uma universidade).

Se você pensa que as pessoas que mais realizam multitarefas são as pessoas cognitivamente mais equipadas para fazê-la, está enganado!

O que as pesquisas mostram? Elas mostram que pessoas que mais realizam multitarefas são cognitivamente piores.

Além disso, a população tende a superestimar sua capacidade de realizar multitarefas. Quando analisados o quesito de desempenho de memória de trabalho entre usuários leves (pessoas que realizam poucas atividades ao mesmo tempo com mídias) e usuários pesados (pessoas que utilizam multitarefas a maior parte do tempo), os usuários pesados têm maiores prejuízos.

Ou seja, mesmo com treino ou quanto mais multitarefa a pessoa ser, pior seu desempenho ficará. Esses usuários crônicos têm pior desempenho tanto em manter a informação quanto para lembrá-las futuramente. Ou seja, há prejuízos na memória de longo-prazo também.

Só para esclarecer, a memória de trabalho é um tipo de memória que utilizamos para manter a informação ao mesmo tempo que conseguimos manipular outras. Por exemplo, quando você está lendo esse texto, você está mantendo as informações lidas até o momento, ao mesmo tempo que continua lendo as palavras seguintes. Isso é essencial para a sua aprendizagem!

E, se tanto a memória de trabalho quanto a memória de longo-prazo sofrem com as multitarefas, é preciso repensar qual estratégia adotar no momento do estudo. Alunos que lêem realizando multitarefas demoram mais tempo para finalizar a leitura. Além disso, sua precisão em um teste posterior é pior do que os alunos que não realizaram multitarefas no momento da leitura. Isso implica em menor produtividade e menor precisão!

Fora esses prejuízos no campo educacional, não podemos deixar de citar que dirigir enquanto realiza multitarefas (ex. ver o celular) aumenta o risco de se envolver em acidentes de trânsito.

O que fazer?

Ainda não há evidências claras que treinar duas tarefas ao mesmo tempo (dual-tasks) vá melhorar o desempenho de realizar multitarefas com mídias. O que a ciência recomenda é:

1. Se for estudar com o celular do lado, deixar no modo silencioso, já que o celular é uma fonte de distração (até mesmo no modo vibrar).

2. Evite assistir TV ao mesmo que fala ao telefone, e evite usar o celular e estudar ao mesmo tempo. Lembre-se que usuários pesados de multitarefas ter pior desempenho na memória de trabalho e na memória de longo prazo.

3. Utilize a “técnica do Pomodoro”. Por exemplo, coloque o timer por 25 minutos. Nesse tempo, desligue-se de todas as distrações (não mexa nas redes sociais, não leia mensagens recebidas, não atenda o celular). Estude, e quando o timer tocar, dê uma pausa de 5 minutos. Nesse tempo, você pode checar suas mensagens e navegar em qualquer site. Após os 5 minutos, retorne aos estudos com foco total por mais 25 minutos e assim por diante. Siga seu ritmo e se quiser dar pausas maiores, faça se sentir melhor.

REFERÊNCIAS

Chen Q, Yan Z. Does multitasking with mobile phones affect learning? A review. Computers in Human Behavior. 2016.

Uncapher M R, Thieu MK, Wagner AD. Media multitasking and memory: Differences in working memory and long-term memory. Psychonomic bulletin & review. 2016.

Facebook Comments Box
COMPARTILHAR: