Ambiente e BiologiaPriscila OrtegaSaúde

Produtos orgânicos: consumir ou não?

Quem não quer comer algo saudável, livre de produtos químicos? Quem não quer ter uma vida melhor, ou seja, com mais qualidade de vida? A partir dessas perguntas, começou-se a pensar na melhoria daquilo que levamos para a nossa mesa, começamos a conhecer, a gostar e a comprar os produtos orgânicos. E por que eles são consumidos? O que há de positivo e negativo em se consumir produtos orgânicos?

Atualmente, uma conscientização com relação à natureza vem crescendo na população. A ideia de que a natureza não é infinita em sua capacidade de absorver os impactos resultantes da atividade humana vem tomando corpo. A partir da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92), dirigentes e cientistas passaram a reconhecer a necessidade de práticas orientadas para o desenvolvimento sustentável das nações, principalmente devido ao processo que impulsionou a agricultura mundial nas décadas de 60 e 70, a qual utilizava a mecanização, fertilização do solo e defensivos químicos contra pragas e doenças.

Contudo, reflexos negativos dessas práticas como a erosão e a contaminação do solo e dos mananciais, começaram a ser percebidos e, assim, novas práticas passaram a ser adotadas. Alimentos mais saudáveis, livres de agrotóxicos e com qualidade ecológica, começaram a ganhar destaque, ganhando a preferência dos consumidores atuais. Vivemos a busca pelos orgânicos.

Primeiramente, deve-se entender o que é a agricultura orgânica. Ela é reconhecida como um sistema de produção que pressupõe uma preocupação deliberada com a procura de harmonia entre o meio ambiente e a produção agrícola. A agricultura orgânica procura seguir parâmetros que reduzam ao mínimo o impacto ambiental sem comprometer a eficiência da meta produtiva. Seu processo de produção visa gerar alimentos num sistema produtivo que seja ambientalmente equilibrado, economicamente viável e socialmente justo. Isto é, trata-se de um esforço que procura, ao mesmo tempo, conservar os recursos naturais, garantindo a sustentabilidade do solo, da água, da biodiversidade e melhorar o nível de produtividade, favorecer a distribuição de renda e oferecer produtos sadios para os consumidores. Nesse contexto, encontramos os produtos e alimentos orgânicos.

Os alimentos orgânicos seguem normas técnicas de protocolo. Isso não permite a utilização de pesticidas e de fertilizantes altamente solúveis em água (tóxicos ao meio e prejudiciais ao organismo humano). Além disso, a fertilidade do solo também é manejada. Utiliza-se a adubação orgânica (composto de resíduos vegetais e animais), adubação verde (leguminosas) e fertilizantes minerais com baixa solubilidade em água. Isso visa minimizar os impactos da agricultura no ecossistema, nas cadeias alimentares, e, também, na saúde humana.

De maneira geral, os produtos orgânicos podem apresentar um sabor discutível. Apesar do sabor ser algo pessoal, degustadores afirmam que os alimentos orgânicos possuem mais gosto que os alimentos produzidos pelo sistema convencional. Além disso, por crescerem sem pesticidas e fertilizantes químicos, os produtos orgânicos podem ser consumidos em sua totalidade, incluindo as cascas de frutas e legumes. Outra característica importante é que esses produtos não são geneticamente modificados; a prática da engenharia genética visa extrair e enxertar genes de uma espécie em outra, para criar novos tipos de safras, objetivando assim uma melhor produtividade e colheita.

Por último, os produtos orgânicos são mais nutritivos, pois possuem menor teor de água em sua composição. Isso significa que os nutrientes são mais concentrados, assim como o açúcar o que pode tornar o sabor mais adocicado. Além disso, os alimentos contém maiores níveis de vitaminas, como a vitamina A presente em tomates orgânicos.

Contudo, nem tudo são flores quando se fala em produtos orgânicos. Muitos argumentam que os produtos orgânicos, além de serem mais caros, podem estar mais vulneráveis à exposição aos contaminantes biológicos, principalmente ao estrume e ao bolor, aumentando o risco de doenças causadas pela comida.

Por outro lado, estudos desenvolvidos por Kahl e colaboradores (2013), demonstraram que, ao contrário do que se imaginava, os produtos orgânicos não apresentam tal vulnerabilidade. Eles são resistentes a contaminantes biológicos assim como um produto não orgânico. Além disso, de acordo com Zalecka e colaboradores (2014), os produtos orgânicos são processados antes de irem às prateleiras do supermercado. Ou seja, ele passam por rigorosos controles de qualidade, incorporando aditivos que minimizariam efeitos microbióticos, sendo esses aditivos inofensivos à saúde humana. Outro argumento utilizado é que a agricultura orgânica não conseguiria produzir o bastante para alimentar a todos. Isto condenaria milhares de pessoas à fome, desnutrição e morte. Isso porque a safra da agricultura orgânica é menor que a convencional. E também não é econômica e socialmente viável nos países mais pobres.

A tabela abaixo mostra, resumidamente, os pontos positivos e negativos tanto dos produtos orgânicos como dos produtos não orgânicos:

Dessa maneira, o uso de produtos orgânicos pode ser um alívio ao meio ambiente. E pode ser um entrave às economias de países em desenvolvimento. A escolha desses produtos depende de alguns fatores: o preço, a responsabilidade com o meio ambiente e a alimentação saudável. Assim, cabe a cada um escolher entre qualidade de vida ou o dinheiro no bolso.

 

REFERÊNCIAS

Cerveira R, Castro MC. Consumidores de produtos orgânicos da cidade de São Paulo: características de um padrão de consumo. Informações econômicas, 1999.

Kahl J, Alborzi F, Beck A, et al. Organic food processing: a framework for concept, starting definitions and evaluation. Journal of the Science of Food and Agriculture, 2013.

Neves MCP, Medeiros CAB, Almeida DL, et al. Agricultura Orgânica: Instrumento para a Sustentabilidade dos Sistemas de Produção e Valoração de Produtos Agropecuários. Seropédica – RJ, 2000.

Ormond JGP, Paula SRL, Filho PF, et al. Agricultura orgânica: quando o passado é futuro. BNDES, 2002.

Zalecka A, Bügel S, Paoletti F, et al. The influence of organic production on food quality – research findings, gaps and future challenges. Journal of the Science of Food and Agriculture, 2014.

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