Roberta EkuniSociedade e Educação

A ciência de como estudar

Início do ano, início das aulas e aquele cenário: se você é estudante, volta o medo dos brancos na hora da prova. Se é professor, pergunta a si próprio novamente como fazer para que seus alunos aprendam melhor. Todos percebem que em geral a matéria fica na cabeça dos estudantes somente até o momento da prova, ou às vezes nem isso!

Os cientistas que estudam como a memória funciona mostram que é possível promover um aprendizado duradouro com uma medida simples. Essa medida não envolve mais tempo em sala de aula, tampouco recursos financeiros. Essa técnica é conhecida como Prática de Lembrar. Ela é eficiente para alunos e professores, independentemente do nível ou áreas do saber.

 

O que é Prática de Lembrar e como funciona?

Prática de Lembrar consiste em exercitar lembrar informações às quais já fomos expostos, ou seja, tentar “tirar informações da cabeça”. Provavelmente muitos de vocês já fazem isso quando dão ou fazem exercícios, testes, simulados. Vocês tentam explicar a matéria para si mesmo ou para outra pessoa e até mesmo em provas!

Quando praticamos lembrar alguma coisa, ativamos no cérebro tudo que conhecemos sobre assuntos relacionados. Toda vez que encontramos a resposta em nossas mentes elas são re-armazenadas (reconsolidadas). Isso significa que a memória dessas informações fica mais forte e melhor associada a outras coisas que sabemos. Assim, é mais fácil lembrar essas informações em outras ocasiões e elas são retidas por mais tempo. Mesmo que não tenhamos sucesso em lembrar, a apresentação da resposta logo em seguida da tentativa de lembrar promove as mesmas vantagens. Isso porque permite a integração da informação correta a assuntos já conhecidos que ativamos ao tentar lembrar. Assim, praticar lembrar aumenta o aprendizado.

Entretanto, essa não é a técnica de estudo mais utilizada pelos estudantes, tampouco é usada por professores ao dar a matéria.

Em geral, alunos preferem reler o conteúdo diversas vezes, ou grifar textos, e professores dão bastante conteúdo. Isso só promove colocar informações “para dentro da cabeça”.

Isso não é muito eficiente porque para usar conhecimentos, temos que fazer o inverso, isto é, treinar achar as informações em nossa mente. É por isso que só dar e reler a matéria não leva a sucesso nas provas e na retenção de conhecimento.

Diferentemente, testes, exercícios e provas nos ajudam a aprender. Infelizmente, porém, estas atividades são mal vistas no âmbito escolar porque são utilizadas somente para medir conhecimento e não como estratégias de ensino e aprendizado.

Se você é estudante, encontre formas de estudar que focam em tentar lembrar informações.
Se é professor, implemente mais essas práticas.

Um exemplo: quando professores fazem perguntas para os alunos em sala de aula, geralmente somente um ou outro responde e os demais nem tentam fazê-lo. O ideal é fazer todos pensarem.

Para estimular essa “procura mental” em toda a classe o professor pode seguir os seguintes passos:

  1. distribuir conjuntos de cartões para cada aluno, cada qual com uma letra ou número (ex. a, b, c, d) e de uma cor diferente;
  2. fazer uma pergunta para a classe;
  3. apresentar alternativas de resposta (ex., no formato a, b, c, d) no quadro ou projetadas;
  4. aguardar um tempo para os alunos pensarem na resposta;
  5. solicitar que todos ergam, ao mesmo tempo, o cartão com a alternativa que acreditam ser a correta;
  6. fornecer feedback, ou seja, explicar qual a resposta esperada.

Como as placas são coloridas, é possível visualizar a taxa de acertos e facilmente notar o que os alunos não entenderam. Mesmo aqueles que erram a resposta se beneficiam se o professor explicar a questão. Mesmo que essa atividade não estiver associada a uma nota, motiva os alunos, “acorda” a sala e ainda melhora a compreensão e retenção das informações.

Gostou e quer saber mais sobre a Prática de Lembrar, além de receber mais dicas de como implementá-la? Entre nesse link e baixe gratuitamente o Guia da Prática de Lembrar, que adaptamos para o Português em linguagem simples e útil para professores de todas as áreas e níveis acadêmicos. Se quiserem, terão a oportunidade de responder um questionário sobre ele posteriormente, para nos ajudar a melhorar o Guia.

 

REFERÊNCIAS

Agarwal PK, Karpicke JD, Kang SHK, Roediger III HL, McDermott KB. Examining the testing effect with open- and close-book tests. Applied Cognitive Psychology. 2008.

Karpicke JD, Butler AC, Roediger III HL. Metacognitive strategies in human learning: Do students practice retrieval when they study on their own? Memory. 2009.

Rowland CA. The effect of testing versus restudy on retention: A meta-analytic review of the testing effect. Psychological Bulletin. Advance online publication. 2014.

 

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