Afinal, quem quer envelhecer?

Acontece para todos os seres vivos. Está acontecendo para mim nesse dia 9 de fevereiro, meu aniversário. Está atrelado ao tempo e, como diz uma música bem conhecida: o tempo não pára!

Envelhecimento é um processo natural que consiste em um persistente declínio de rigor de componentes do organismo. É a deterioração fisiológica do corpo. Alex Comfort, médico britânico, definiu envelhecimento em seu livro “A Biologia da Senescência” como: “um aumento progressivo ao longo da vida, ou após um determinado estádio, da probabilidade de um determinado indivíduo morrer, durante a próxima unidade de tempo, de causas distribuídas aleatoriamente.”.

Ou seja, envelhecer é ter mais chances de morrer. Ninguém quer morrer. Pois, então, que quer envelhecer?

O anseio do ser humano por uma vida mais longa e saudável é tão grande que existem inúmeros grupos de cientistas dedicando suas carreiras a entender quais os processos que acontecem durante o envelhecimento. São inúmeros! No entanto, estudar esses processos a fundo pode nos trazer ideias de quais deles podem ser cruciais para impedirmos o desenvolvimento de doenças como o Mal de Alzheimer e o Mal de Parkinson, já que impedir o inevitável envelhecimento e a morte talvez seja algo possível apenas para os vampiros.

E o que a ciência sabe sobre a biologia do envelhecimento?

–   Uma das observações mais antigas é que, durante o envelhecimento, as pontas do nosso DNA (nosso código genético que está dentro do núcleo de cada célula), vão encurtando. Essa pontas são chamadas de telômeros. Os telômeros são importantes para impedir o desgaste do material genético e manter a estrutura do cromossomo.

–   Outro fator importante é que a capacidade das nossas células-tronco em reparar os tecidos vai decaindo durante o tempo. As células-tronco são células que podem se diferenciar em qualquer célula do organismo. Inclusive, as próprias células tronco também vão encurtando seus telômeros com o tempo.

–   Nossas mitocôndrias, conhecidas por serem as geradoras de energia dentro da célula, também sofrem deterioração com o envelhecimento. Elas produzem cerca de 90% da energia celular, o que as tornam responsáveis pela liberação de radicais livres que parecem estar diretamente associados ao envelhecimento. No entanto, existem estudos que apontam para o fato de que os radicais livres talvez não sejam o fator mais relevante do envolvimento da função mitocondrial no envelhecimento. Alguns estudos sugerem que mutações repetidas no DNA mitocondrial (sim, existe código genético dentro da mitocôndria), são diretamente associados ao envelhecimento.

–   A sua microbiota intestinal também pode interferir no envelhecimento. Muitos estudos já mostraram que a microbiota intestinal de pessoas mais velhas é completamente diferente da microbiota de pessoas mais novas. Um estudo mais recente feito em peixes mostrou que transferir as fezes (e com ela a microbiota) de um peixe jovem para um peixe mais velho, faz o peixe mais velho viver mais tempo. Essa intervenção preveniu o decaimento da diversidade de microbiota associada com o envelhecimento.

Uma grande lição sobre o prolongamento da vida de forma saudável pode ser aprendida da sociedade japonesa. Um terço dos japoneses terão mais de 65 anos em 2030, e 20%, mais de 75 anos. Um estudo analisou qual componente da vida dos japoneses poderia contribuir mais fortemente para a longevidade. Vários fatores, incluindo educação, cultura, qualidade de vida socioeconômica, seguro saúde universal, contribuem para o fato de que os japoneses vivem muitos anos de forma saudável. No entanto, não surpreende o fato de que a alimentação balanceada e saudável (baixa quantidades de gordura, muito consumo de peixes e produtos derivados da soja), associada com a ingestão de líquidos (água e chás) e exercícios é a perfeita combinação que melhor explica a longevidade japonesa.

Muitos estudos científicos ainda precisam ser feitos para que possamos entender quais desses aspectos (e ainda outros que não foram descobertos) podem ser utilizados para prolongar a qualidade de vida. Mas anos e anos de estudos já mostram que o velho conselho de alimentação saudável, exercício e, muito provavelmente, paz mental podem ser a chave de outro para viver mais e melhor.

 

REFERÊNCIAS

Ahmed ASI, Sheng MHC, Wasnik S, Bavlink DJ, Lau KW. Effect of aging on stem cells.  World J. Exp. Med. 2017.

Payne BAI, Chinnery PF. Mitochondrial dysfunction in aging: Much progress but many unresolved questions. Biochim Biophys Acta. 2015.

Blackburn EH, Epel ES. Lin J. Human telomere biology: A contributory and interactive factor in aging, disease risks, and protection . Science. 2015.

O’Toole PW, Jeffery IB. Gut microbiota and aging . Science. 2015.

Smith P, Willemsen D, Popkes M, Metge F, Gandiwa E, Reichard M, Valenzano DR. Regulation of life span by the gut microbiota in the short-lived African turquoise killifish . ELife. 2017.

 

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